Releitura da «Plaquette» de Rosa Oliveira, de Jan. de 2021 [...]
querem falar de sinceridade?
pinto quadros abstractos
os campos são sempre castanhos
e desvio-me da bala que chega todos os dias
dá uma trabalhão ser invisível
mas gosto de estar na estrada onde ninguém passa
alimentada desde cedo por comprimidos e bíblia
queria ser uma aberração de feira
talvez mesmo um torpedo
palavra tão poderosa
e subaproveitada na poesia
(pelo menos na poesia não-futurista)
no palco cega de frio
li de modo imperceptível
sofri as palmas contrafeitas
e lá me safei aos tropeções da inteligência
arquejando alívio
mais um dia de grande produção:
acentuada
esdrúxula ignomínia anónima
Rosa Oliveira, DESVIO-ME DA BALA QUE CHEGA TODOS OS DIAS, 2021, p.11