quarta-feira, 13 de julho de 2011

FIAMA - Epístola para um caramanchão coberto por madressilva

Gastão Cruz, a propósito da edição, por si organizada,  de Âmago - uma Antologia da obra de FIAMA - traça  um percurso pela mesma num vídeo da série «L.M. - L.M», em Março do corrente ano. 

no final, lê o poema que a seguir se transcreve:

EPÍSTOLA PARA UM CARAMANCHÃO
COBERTO POR MADRESSILVA

Nesse caramanchão que a madressilva cobriu
sempre estavam mais sombras do que corpos ou coisas.
A sombra de alguém que se sentasse junto aos vasos
estendia a mão nítida para uma flor de sombra.
Dançasse uma criança em volta do pequeno lago
no centro, e havia uma espiral de sombras claras.
Solitário, na própria sombra, o gato era um corpo
penando a dualidade de ser e de não ser.
Até a pá do jardineiro, linha de sombra oblíqua,
por ser de sombra se quebrava em ângulo.
Não porque todos não estivéssemos em vida ali
mas porque a madressilva, só ela, se embebia de luz
.


Fiama Hasse Pais Brandão, Obra breve, Lisboa, Assírio & Alvim, 2006, p. 597
[de Epístolas e memorandos, 1996]

- na «RTP ARQ», entrevista, de 1978, a Á. M. Machado, sobre «Área Branca» [entre 6´90´´ e 16´];